Entendimento bíblico-gramatical
Entendimento bíblico com teor gramatical: a intimidade de Deus conosco percebida através da gramática.
— Leia a palavra que agora te dou. — Onde, Pai? — Em qualquer parte da Bíblia, pois a minha palavra se completa por si mesma.
Então, percebi o objeto indireto da primeira frase do Senhor: “Leia a palavra que agora te dou.” E percebi que o Senhor poderia ter usado o pronome oblíquo “lhe” com a função de objeto indireto, mas usou o pronome oblíquo “te” com a função de objeto indireto: lhe dou — dou a você; te dou— dou a ti.
Lembremo-nos de que “você” é um pronome pessoal de tratamento referente à segunda pessoa do discurso, mas devido à sua característica de pronome de tratamento é usado na terceira pessoa (equivalente a “usted” em espanhol). Etimologicamente se refere à expressão de tratamento de deferência “vossa mercê” que evoluiu com o passar do tempo: “vossa mercê” > “vosmecê” > “vancê” > “você”.
“Vossa mercê” (ou “Sua graça”) teve início como uma demonstração de respeito à realeza em Portugal cujo emprego se tornou popular ao chegar ao Brasil no tocante a pessoas que não admitiam serem chamadas por “tu”. Desse modo, “vossa mercê” transparece uma relação sem intimidade, diferentemente de “tu” que transparece uma relação de intimidade.
Em tese, o “tu”, segunda pessoa do singular, existe como um pronome especificamente informal que é usado na intimidade dos familiares ou amigos mais chegados. Para além desses tipos de relacionamentos, o emprego de “tu” se torna desrespeitoso e indelicado.
Isso me faz lembrar de um fato ocorrido em uma sala de consultório quando, ao querer demonstrar para a médica que eu me sentia à vontade com ela, usei o pronome “tu” ao lhe falar.
Imediatamente sob um tom de repreensão, respondeu-me: “Tu, não; você!” Logo percebi que ela queria colocar em prática o que tinha aprendido sobre os termos e queria que fossem aplicados por seus clientes como forma de respeito à sua posição e para inibir intimidades. Fiquei muito sem graça diante de “sua graça”, mas também considerei sua resposta como um ato de pedantismo ao exigir tal deferência.
Nas relações sociais, há uma exigência de tratamentos que denotam uma diferença hierárquica entre seus membros. Isso é natural, desconsiderando atos de mera presunção ou soberba. Nas relações com Deus, que é Deus, o próprio Deus não faz isso com suas criaturas com quem ele permite intimidade. Pelo fato de ser Deus, ele poderia exigir isso de todas as suas criaturas, não filhos assim como filhos. Mas temos o direito de falar com Deus como o nosso amado Pai.
Lembremos de Jesus que demonstrou a sua humildade em diversas ocasiões quando ele podia mostrar sua total autoridade, não usurpando o ser igual a Deus:
“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Fp 2:5:8).
“Assim que já não és mais servo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro de Deus por Cristo” (Gl 4:7).
Vejamos abaixo como o Senhor trata o seu filho, sendo ele o próprio Deus que poderia exigir um tratamento de deferência para os que se relacionam com ele, mas não o faz, demonstrando a intimidade que tem para com seu filho.
“Assim diz o Senhor, Deus de Israel: Eu te ungi rei sobre Israel e eu te livrei das mãos de Saul; e te dei a casa de teu senhor e as mulheres de teu senhor em teu seio e também te dei a casa de Israel e de Judá; e, se isto é pouco, mais te acrescentaria tais e tais coisas” (2 Sm 12:7-8).
“Eu te ungi”; “Eu te livrei”; “E te dei a casa de teu senhor e as mulheres de teu senhor em teu seio” (“te dei” equivale a “dei a ti”, com referência a “tu“); “E também te dei a casa de Israel e de Judá”; “Mais te acrescentaria”.
O Senhor poderia ter usado os pronomes oblíquos “o“ e “lhe”, ou o pronome de tratamento “você”, sob a função de objeto direto ou indireto:
“Eu o ungi” ou “Eu ungi você”; “Eu o livrei” ou “Eu livrei você”; “E lhe dei a casa de seu senhor e as mulheres de seu senhor em seu seio”; ou “E dei a você…”; “E também lhe dei a casa de Israel e de Judá”; ou “E também dei a você…”; “Mais lhe acrescentaria” ou “Mais acrescentaria a você”.
No entanto, em todo esse texto, observamos que Deus escolhe usar pronomes que revelam a sua intimidade com o seu servo ou filho. Tudo isso para nos revelar: “Eu falo contigo na intimidade, mas não deixo de ser o teu Deus. Eu sou o teu Deus".
“Porque este Deus é o nosso Deus para sempre; ele será nosso guia até à morte” (Sl 48:14).
Entretanto, Deus também usa o pronome “tu” para demonstrar a sua autoridade diante daqueles que não a respeitam por não o reverenciarem:
“E Jesus, porém, guardava silêncio. E, insistindo o sumo sacerdote, disse-lhe: Conjuro-te pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus. Disse-lhes Jesus: Tu o disseste; digo-vos, porém, que vereis em breve o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu” (Mt 26:63-64).
Deus usa a linguagem do modo que ele quer com quem ele quer, usando as normas gramaticais para nos falar claramente e nos fazer saber como ele nos trata. Deus é o dono da gramática e nos ensina a usá-la com a devida correção.
Mensagem recebida após essa postagem:
"Answer Your Biblical Calling" Por: Israel Bible Center
Tradução:
Atenda ao seu chamado bíblico
"Hearing Scripture’s Voice According to Jewish tradition, while Scripture comes from heaven, the text was written in “human language.” This means that even we humble human beings can understand the Bible’s lofty message, but it’s up to you and us to answer the divine call."
Tradução: Ouvindo a voz das Escrituras
De acordo com a tradição judaica, enquanto a Escritura vem do céu, o texto foi escrito em “linguagem humana”. Isso significa que até nós, seres humanos humildes, podemos entender a mensagem sublime da Bíblia, mas cabe a você e a nós responder ao chamado divino.